quarta-feira, 29 de junho de 2011

Existem Marias e Marias

Amanheci Maria

- Mas isso é normal, és Maria, resmunga Ubaldo.

- Sim, sou Maria de nome e grandeza.

- Não entendi.

Ahh! Homens!!! Penso eu. Será que Ubaldo imagina que me refiro ao dia da faxineira passar por aqui. Deixa pra lá, não vou me estressar por pouca coisa.

- Traga-me um café Maria!

- Meu querido, perdoe-me, mas não sou Maria vai com as outras. Embora eu tenha meu lado de coser e casar, também sou Maria de pecar. Tome tento!

- Estás atacada querida? Ou importunada com algo?

- Não. Estou é lisonjeada em ser tão cantada e encontrada. Veja bem, meu bem!

Gilberto Gil me encontrou sentada numa pedra comendo farinha seca. Jobim, Vinicius e Chico disseram-me querer como presa da poesia. E eu não quis, parti.

Eles não me viram nua, nem mesmo com a lua me chamando.

- Você se envolveu com esses caras minha Maria!

-Como você é tolo! Cuide-se, pois posso partir cantando contra a ventania. E me perdoe o mundo das Carolinas, Michelles, Madalenas, Luizas e nos fizeram ode fez, mas em compensação nem Teixeirinha nos deixou de fora ao dizer que o vento que sobra tem nome de ventania e toda mulher ciumenta tem nome de Maria... Ai, ai, Maria do teu ciúme todo mundo desconfia...

- Maria, onde está meu café?

Não respondo e sigo divagando. Antonio, José e Luis já ficaram na história quando fui contra o vento. Será hora de descerrar a cortina com Ubaldo?

- Cafééééééééé!

Não ouço nada além de meus pensamentos, agora verbalizados tal qual Roberto cantou “ não lhe chamaram assim como tantas, Marias de santas, Marias de flor,. Seria Maria, Maria somente, Maria semente”.

- Você me ouviu?

- Sim, mas quero não ouvi-lo, pois você desconhece esta supostamente sua Maria?

- Conheço muito bem.

- Ledo engano querido! Não sou só um nome de mulher. Sou uma Maria que não dá paz e um homem que se preza, em prantos por mim se desfaz . Nós os fazemos perder a paz.

- Querida Maria, você sempre soube que poesia não é meu forte. No entanto, sempre achei que você era apenas uma senhora soberana. Sem deixar de ser serena e amante da vida. Uma mulher de fibra por vezes forçada a pedir auxílio. Mas só por vezes, pois aguenta a dor como ninguém e acha que dinheiro é necessário, mas não essencial.

- Toma seu café. Um prêmio pela pesquisa ao santo Google. Valeu!

- Santa sabedoria! Murmura entre dentes o pobre Ubaldo.

Maria responde prontamente jogando os cabelos lindamente escovados.

Eu ouvi, mas faço que não.

Lá do canto do quarto Ubaldo olha por sob o óculo, esfregando os respingos do café no pijama. No espelho, uma mulher recém saída do banho para a ventania. Seu rastro de Prada está no ar. Altos saltos firmemente pisam o chão ao compasso de Milton “Maria, Maria É um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar”.

E lá foi Maria, para mais um dia enfrentar a ventania.

...Como todos os dias.

Nunca dias iguais.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Longe do brejo

Nessa chuvosa manhã invernal pensei em sapos. Odeio sapos, muito mais aqueles de caras esquálidas que as pessoas insistem em usar como enfeite domiciliar. Misturei sapos, mau gosto, frio e nada por fazer, já que ainda é cedo e o Brasil anda lento.

Nossa que mistura!

Mesmo não sendo uma verdulóide e também não pertencendo aos adoráveis anarquistas do Green Peace, resolvi dar um basta nos atiradores de batráquios e juro que vou descobrir em qual pântano esses arremessadores de anuros guardam a munição para os seus ataques quase que diários e intermináveis.
Um Biologe Freund (amigo biólogo em alemão) contou-me que a associação do sapo com algo nada agradável de engolir, digamos então “impalatável” vem lá do tempo do Epa, que coisa mais velha essa de intrigas, não?? Disse-me que está em determinado lugar no livro do Êxodo que um faraó nada simpático recebeu como punição de Deus uma série de pragas, uma das quais se constituía de uma invasão de milhares de rãs. Ou seriam sapos? Tanto faz, dá na mesma, o gosto é igual se não acrescentarmos açafrão. Se não é a mesma coisa, devem pertencer ao mesmo clã, com toda a certeza. Segundo o Freund, o cara encontrou o saltitante anfíbio anuro em todos os lugares possíveis e imagináveis do seu faraônico palácio – inclusive em seu suntuoso quarto de dormir, cozinha e banheiro. Imagine um faraó batracófobo com dor de barriga... He! He! Nada agradável.
Mudando de assunto, mas sem deixar o tema. Meu pensamento sai do Egito e vai para o contos de fadas onde sapos e príncipes disputam palmo à palmo o final feliz. É... Deus criou o mundo, os sapos e nós o fizemos um bicho nojento e é nele que acabamos nos transformando ao longo da vida, mesmo que tenhamos nascidos príncipes. E assim vamos explicando a eterna diferença entre o bem e o mal. Convenhamos, não precisamos ser ecologista para saber que esses inocentes e rastejantes seres têm lá sua utilidade e com certeza não é em nossa garganta ou estômago. Proponho nesta manhã chuvosa, uma campanha socialmente correta:
“Jogue seu sapo no brejo certo”.O meio social que você vive agradecerá.