
Amanheci Maria
- Mas isso é normal, és Maria, resmunga Ubaldo.
- Sim, sou Maria de nome e grandeza.
- Não entendi.
Ahh! Homens!!! Penso eu. Será que Ubaldo imagina que me refiro ao dia da faxineira passar por aqui. Deixa pra lá, não vou me estressar por pouca coisa.
- Traga-me um café Maria!
- Meu querido, perdoe-me, mas não sou Maria vai com as outras. Embora eu tenha meu lado de coser e casar, também sou Maria de pecar. Tome tento!
- Estás atacada querida? Ou importunada com algo?
- Não. Estou é lisonjeada em ser tão cantada e encontrada. Veja bem, meu bem!
Gilberto Gil me encontrou sentada numa pedra comendo farinha seca. Jobim, Vinicius e Chico disseram-me querer como presa da poesia. E eu não quis, parti.
Eles não me viram nua, nem mesmo com a lua me chamando.
- Você se envolveu com esses caras minha Maria!
-Como você é tolo! Cuide-se, pois posso partir cantando contra a ventania. E me perdoe o mundo das Carolinas, Michelles, Madalenas, Luizas e nos fizeram ode fez, mas em compensação nem Teixeirinha nos deixou de fora ao dizer que o vento que sobra tem nome de ventania e toda mulher ciumenta tem nome de Maria... Ai, ai, Maria do teu ciúme todo mundo desconfia...
- Maria, onde está meu café?
Não respondo e sigo divagando. Antonio, José e Luis já ficaram na história quando fui contra o vento. Será hora de descerrar a cortina com Ubaldo?
- Cafééééééééé!
Não ouço nada além de meus pensamentos, agora verbalizados tal qual Roberto cantou “ não lhe chamaram assim como tantas, Marias de santas, Marias de flor,. Seria Maria, Maria somente, Maria semente”.
- Você me ouviu?
- Sim, mas quero não ouvi-lo, pois você desconhece esta supostamente sua Maria?
- Conheço muito bem.
- Ledo engano querido! Não sou só um nome de mulher. Sou uma Maria que não dá paz e um homem que se preza, em prantos por mim se desfaz . Nós os fazemos perder a paz.
- Querida Maria, você sempre soube que poesia não é meu forte. No entanto, sempre achei que você era apenas uma senhora soberana. Sem deixar de ser serena e amante da vida. Uma mulher de fibra por vezes forçada a pedir auxílio. Mas só por vezes, pois aguenta a dor como ninguém e acha que dinheiro é necessário, mas não essencial.
- Toma seu café. Um prêmio pela pesquisa ao santo Google. Valeu!
- Santa sabedoria! Murmura entre dentes o pobre Ubaldo.
Maria responde prontamente jogando os cabelos lindamente escovados.
Eu ouvi, mas faço que não.
Lá do canto do quarto Ubaldo olha por sob o óculo, esfregando os respingos do café no pijama. No espelho, uma mulher recém saída do banho para a ventania. Seu rastro de Prada está no ar. Altos saltos firmemente pisam o chão ao compasso de Milton “Maria, Maria É um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar”.
E lá foi Maria, para mais um dia enfrentar a ventania.
...Como todos os dias.
Nunca dias iguais.