sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Papos e manobras


Um ambiente feminino é ideal para confidências. É o local apropriado para as luluzinhas despudoradas confidenciarem seus devaneios sobre o espécime que está em falta no mercado, o masculino. Tão amado, a ponto de cada uma de nós sonharmos em ter o seu Bolinha.
- Boa tarde, boa sexta-feira! Tudo bem por aqui?
- Ótimo! Responde a nada inquietante Rioca. Estranho nome não!
Parece que hoje o dia será daqueles. Muito trabalho e muito mais que os 15 minutos de descanso para o corpo. A mente estará a mil e a língua gastará toda a saliva armazenada da semana.
- Mas caso você queira saber, estou bem também. O final de semana promete um intenso luar e eu até vou me oferecer como companhia para admirá-lo.
- Como é que é? Não estou te reconhecendo. Está voltando a “Maria que não foi com as outras” em você!
- Olha Rioca! Sabe que estou com saudade dela e decidi matar a Maria que nem com as outras vai mais. Cansei.
- Mas o que houve com você!
- Vamos dizer que a culpa é de um espaguete explosivo, que teve como estopim um vinho sul-africano.
- Maria, Maria! Você e seus conceitos nada esclarecedores, quase que advinhatórios ou dedutíveis.
Rioca me fixa com aquela sua carinha “meio séria, meio não sei o quê”, querendo saber mais. Porém, não há nada mais a contar além de duas taças de vinho sujas, louça na pia e uma garrafa de vinho vazia.
Surpreendo-me com os pensamentos pessimistas da velha Maria, aquela que não foi com as outras.
- Ah! Não pense você que só eu tenho que detalhar. Como você e seu novo amor estão?
- Estamos indo muito bem.
- Bem, isso não é necessário falar, está visível em sua cara resplandecente.
Só ouvi um: k k k k k k k k!
Tendo explicar, já que as gargalhadas de Rioca nada sugeriram. Ou será que sim?
“As mulheres e seus mistérios”, disse-me um escritor neoveneziano. Entendo-o e mentalmente justifico que seríamos taxadas de chatas se um misteriozinho não nos envolvesse.
Vamos àexplicação. É simples: mulheres que sabem amar-se, amam seus parceiros com naturalidade, sem grandes alardes ao mundo, apaixonam-se para si , criando aíuma aura dourada, um resplendor.
- Por que me olha Maria?
- Penso no seu pensamento, já que a única resposta obtida foi seu riso que sempre é fácil e simpático.
- Obrigada, colega. Mas devo contar que estou feliz com meu relacionamento. Não pensei que saindo de um logo encararia outro assim tão rápido.
- Mas isso a gente não prevê Rioca!
- Não mesmo, mas dá uma preguiça sabe. Só de pensar que temos que começar tudo de novo. Encarar uma de manobrista é foda colega. Pesa na relação.
-Manobrista! Não entendi?
- Um pouquinho mais pra baixo. Mais para ladinho! Assim! Entendes?
- K k k k k k k k ! É a minha vez de rolar de ir.
- Ahhh, Maria! Nunca manobraste? Pergunta Rioca.
- Muitas... Apenas nunca me encarei como uma flanelinha.
- Vamos trabalhar?
- Sim, vamos trabalhar.
Mas vem o lado Maria que não vai com as outras e me pergunta:
-E aí? Vai estacionar hoje ou apenas ver a lua?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Entre dores e delírios

                                                                    
Combinado espero você por aqui amanhã.
Lá estava ele à espera e apenas um aceno bastou para que seguisse meu carro.
Olho pelo retrovisor, fico nervosa. Um belo espécime masculino me segue.
Diminuo a marcha, não pelas lombadas, para curtir o momento.
Afinal, não sou capa de nenhuma Boa Forma. Epa!
Mas sou sexy, inteligente e ... Convencida, é claro!
Mar ao lado, um belo sol e eu sendo seguida.
Ah! Existe paraíso sim. Cansei do limbo.
Seta para a direita, entro na Rua Marquês de S...
Não li o resto, foi a emoção do momento.
Deslizo pela esburacada rua.
Nova seta à direita.
Ele para o carro ao meu lado e pergunta, é aqui?
Engasgada digo sim. De salto, salto do carro.
Esqueci de sua pouca mobilidade e sigo adiantada.
Paro e espero.
Silenciosamente entramos em uma sala de espera um pouco escura, mas convidativa.
Sentados eu ao lado do outro, nos olhamos. Tiro os sapatos.
Corro para o banheiro, a roupa não é adequada, preciso algo mais confortável.
Olhamos-nos novamente. Um olhar de quem vai primeiro.
Ele começa.
Deitado, virado, atravessado. Muitas são as posições,
Muitos “ais” e gemidos. Eu diria que até grunhidos ouvi.
E não parou ai, toques precisos se sucedem.
Chutes e pegadas por trás.
Ouço um “ahhh”, induzindo-me a pensar no alívio da situação.
Bem...  É minha vez.
Também sou virada, amassada e massageada.
Livrei-me de atos mais rudes.
Acho que naquele momento meu lado frágil estava estampado na face.
Reclamo baixinho, sussurro os meus “ais”.
Acabou.
O alívio vem, espreguiço-me como de costume.
Salto, sem o salto.
Os olhares se encontram.
Você gostou.
Sim. Era disso que eu precisava.
Silenciosos voltamos aos nossos carros e seguimos até o ponto de onde partimos.
Uma buzinada de tchau.
E eu sigo aliviada, pensando em quando será a nova consulta ao quiropraxista.
Como é bom alinhar a coluna.