Um ambiente feminino é ideal para confidências. É o
local apropriado para as luluzinhas despudoradas confidenciarem seus devaneios
sobre o espécime que está em falta no mercado, o masculino. Tão amado, a ponto
de cada uma de nós sonharmos em ter o seu Bolinha.
- Boa tarde, boa sexta-feira! Tudo bem por aqui?
- Ótimo! Responde a nada inquietante Rioca.
Estranho nome não!
Parece que hoje o dia será daqueles. Muito trabalho
e muito mais que os 15 minutos de descanso para o corpo. A mente estará a mil e
a língua gastará toda a saliva armazenada da semana.
- Mas caso você queira saber, estou bem também. O
final de semana promete um intenso luar e eu até vou me oferecer como companhia
para admirá-lo.
- Como é que é? Não estou te reconhecendo. Está
voltando a “Maria que não foi com as outras” em você!
- Olha Rioca! Sabe que estou com saudade dela e decidi
matar a Maria que nem com as outras vai mais. Cansei.
- Mas o que houve com você!
- Vamos dizer que a culpa é de um espaguete
explosivo, que teve como estopim um vinho sul-africano.
- Maria, Maria! Você e seus conceitos nada
esclarecedores, quase que advinhatórios ou dedutíveis.
Rioca me fixa com aquela sua carinha “meio séria,
meio não sei o quê”, querendo saber mais. Porém, não há nada mais a contar além
de duas taças de vinho sujas, louça na pia e uma garrafa de vinho vazia.
Surpreendo-me com os pensamentos pessimistas da
velha Maria, aquela que não foi com as outras.
- Ah! Não pense você que só eu tenho que detalhar.
Como você e seu novo amor estão?
- Estamos indo muito bem.
- Bem, isso não é necessário falar, está visível em
sua cara resplandecente.
Só ouvi um: k k k k k k k k!
Tendo explicar, já que as gargalhadas de Rioca nada
sugeriram. Ou será que sim?
“As mulheres e seus mistérios”, disse-me um
escritor neoveneziano. Entendo-o e mentalmente justifico que seríamos taxadas
de chatas se um misteriozinho não nos envolvesse.
Vamos àexplicação.
É simples: mulheres que sabem amar-se, amam seus parceiros com naturalidade,
sem grandes alardes ao mundo, apaixonam-se para si , criando aíuma aura dourada, um resplendor.
- Por que me olha Maria?
- Penso no seu pensamento, já que a única resposta
obtida foi seu riso que sempre é fácil e simpático.
- Obrigada, colega. Mas devo contar que estou feliz
com meu relacionamento. Não pensei que saindo de um logo encararia outro assim
tão rápido.
- Mas isso a gente não prevê Rioca!
- Não mesmo, mas dá uma preguiça sabe. Só de pensar
que temos que começar tudo de novo. Encarar uma de manobrista é foda colega.
Pesa na relação.
-Manobrista! Não entendi?
- Um pouquinho mais pra baixo. Mais para ladinho!
Assim! Entendes?
- K k k k k k k k ! É a minha vez de rolar de ir.
- Ahhh, Maria! Nunca manobraste? Pergunta Rioca.
- Vamos trabalhar?
- Sim, vamos trabalhar.
Mas vem o lado Maria que não vai com as outras e me
pergunta:
-E aí? Vai
estacionar hoje ou apenas ver a lua?