Eu e Antonia somos as mais perfeitas cafeteiras, não fazemos um bom café nem somos possuidoras da melhor cafeteria italiana. Nós bebemos muito café, isso sempre em charmosas cafeterias. É dessa maneira que encontramos pessoas charmosas e de bem gosto. Parceiras de idade e estado civil anotem isso.
-Sim, Antonia. Estou ótima. Vamos sentar e pedir um café?
- Por favor! Elisa o nosso café de sempre!
São 14 horas de um outonal, com temperatura não passando dos 18 graus. No caminho até o café era perceptível a chegada da nova estação, as folhas amareladas já cobriam o chão.
Comento com Antonia sobre a estação, nunca sobre o tempo, pois assuntos não nos faltam.
- Sim, lembre-se de sua promessa pessoal, este não será um inverno solitário.
- Não esqueci. Mas não saio à procura. Isso virá e logo.
As conversas fluem. Planos, idéias e sentimentos pessoais são discutidos.
Antonia que não possui visão periférica chama Elisa para mais um café. E ao virar-se, espanta-se:
- Augusto! Há quanto tempo? Por onde andas?
Ele se aproxima e mesmo de pé conta a sua história. Indescritível é o seu perfume.
Antonia em sua comum simpatia o convida a sentar-se para um café.
Passo a expectadora, não faço parte da amizade. Curto o cheiro do café, do perfume e da visão outonal agora sob forma humana e sentada na cadeira ao lado.
Planos, pensamentos e a atitudes passam a ser discutidos a dois.
Ouço tudo e faço um questionamento com o lado esquerdo do cérebro: existem mesmo moléculas específicas que permitem a comunicação química entre indivíduos, o tal feromônio?
“... mulher é para ser companheira e não empregada doméstica.” É o final da frase de Augusto.
Peço licença a dupla e pergunto ao amigo de Antonia.
- Quer namorar comigo?
Ele muda rapidamente de assunto e eu me calo. Não fui cortada apenas desviada. Como é preciso muito mais que falta de atenção para me chatear. Trocamos um sorriso e o rumo da conversa.
Amenidades, lembranças e identificações passam a fazer parte da conversa agora a três.
- Eliza! Por favor, mais três cafés.
Hora da despedida chega. Eu tenho 200 km para voltar. Antonia e Augusto saem juntos.
Já em casa, meu telefone toca. Antonia pergunta se fiz boa viagem. Afirmo que foi tranquila.
- O que você fez com meu amigo? Não consegui manter diálogo comercial, só queria saber de você. Contei o que com certeza você permitiria. Mas ele levou o Portal Veneza para ler.
- Sem problemas. Pouco tenho a esconder e o que tenho nem você sabe.
E a vida seguiu por uma semana e o telefone tocou.
- Boa noite. Como está a escritora e cronista do Portal Veneza?
- Vou bem. Quem fala, por favor?
- É Augusto, seu leitor e grande tomador de café. Agora pronto para responder a sua pergunta.
- Qual pergunta?
- Se esqueceu, eu pergunto. Quer namorar comigo?
Silencio para pensar. A química fala por si e por mim.
- Tudo bem! Me responda hoje à noite em nosso jantar. É Augusto quebrando o meu silêncio.
Finda a ligação. Começa o meu compromisso. E era para ser só um café outonal.