domingo, 18 de setembro de 2011

De gatos eu sei




Acordo com o miar na porta do quarto.
Abro a porta.
Entra em passo manso e elegante, reclamando da porta fechada. Acomoda-se no seu entre os meus lençóis brancos e começa a ronronar como se estivesse no próprio paraíso.
O sono me vence. Ainda é cedo. Fecho os olhos.
Sinto um leve toque no queixo. Um sinal de "hora de acordar". Ao abrir os olhos, vejo outros, lindos e azuis a me encarar. Que olhar! Derreto-me.
O olhar insiste e o ronronar é continuo.
Hora de levantar.

Espreguiçamo-nos, deixamos o ninho rumo à cozinha. É hora da fome. Dele, é claro! E não vai largar do meu pé até receber uma comida de bom sabor em prato de porcelana.
Vou para meu estúdio, ele corre a instalar-se em cima do teclado, bem na minha cara. No melhor estilo face-to-face.
Bem é hora de trabalhar... Afinal, quem paga o atum da casa?
Fim do dia... Retorno.
Há sinais de quem dormiu uma tarde inteira sobre a cadeira, uma preciosa relíquia da década de 40 forrada em veludo alemão. Confesso que muito tive que poupar para conseguir adquiri-la.
Nem consigo andar pela casa, o bichano se esfrega, enrosca em minhas pernas e todo dengoso pede colo. Há também os dias em que se estira no chão com a barriga para cima, num ato mais ou menos "quero atenção, você sai o dia inteiro e eu fico aqui sozinho ".
Minhas mãos se ocupam em seu corpo peludo por um bom tempo.
Depois da ação devidamente desfrutada, ele me dá às costas e sai a perambular pela casa.
Viro vassala a aspirar alguns pêlos.
Puxo o tapete.
O que encontro?
- Uma doida varrida para baixo dele?
Não.

Mosquitos e outros espécimes que foram caçados e ali depositados para não sujar o ambiente. Gatos odeiam sujeira.
Vou ouvir música. Canto gregoriano nem pensar! Ele corre pela casa parecendo uma fera.
Ele tem lá seu gosto, prefere o blues à música clássica e também o atum à sardinha.
Curioso por natureza, enfia-se em tudo quanto é armário.
Ler a seu lado nem pensar. Ele não hesita em sentar sobre o jornal ou livro com a maior naturalidade se mistura às manchetes e personagens.
Seleciona e faz charme na hora de comer.
Não troca um banheiro limpinho por nada deste mundo. E seu esporte preferido é lagartear numa mancha de sol sobre uma superfície macia do mais nobre tecido da casa.
Decifrá-lo é minha tarefa diária: preguiçoso, amoroso, miador, ciumento, sensível e personalíssimo. Assim é meu felino.
Nos momentos felizes, soma ainda mais alegria à minha vida. Nos momentos de tristeza, por vezes é meu único companheiro.
Se entristeço, ele logo pressente meu desassossego e vem sentar-se no meu colo, acaricia-me , ronronando e roçando o focinho. Num agradável, áspero e gelado beijo esquimó.
É..."Se o cruzamento do homem e do gato fosse possível, aprimoraria o homem mas deterioraria o gato", disse Mark Twain.
Eu? Nada a declarar.

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