- Olá, tudo bem?
- Sim, tudo bem.
- Dia lindo hoje.
- Sim, a primavera se anuncia muito bonita.
- Você é daqui?
- Não sou de lá de fora.
- Você vem sempre aqui?
- Sim, sempre que tenho vontade.
- Eu nunca a vi por aqui e venho com frequência.
- Sim, minhas vontades são poucas.
- Quais vontades?
- As de vir aqui.
- E por quê?
- Porque não há variação de pessoas e muito menos
de conversas.
- Não entendi.
- Presumo que não, estás acostumado a mesmas
ladainhas.
- O que é uma ladainha?
- Meu São Judas Tadeu! Será que vou ter que
desenhar?
- Quem é esse cara? Seu parente?
- Amigo, ladainha é o mesmo que lengalenga,
entendeu?
- Não, não entendi.
Meus dedos tamborilam em um objeto imaginário,
olhos, motivados pela impaciência, se perdem no horizonte para não saírem de
órbita.
- O que você não entendeu?
- O seu “tendafenga”.
Se não entendeu a palavra lengalenga imagine se eu
disser que é enfadonho. Recorro ao dicionário mental.
- Não gosto de ouvir sempre as mesmas coisas, de
repetição. Entendeu?
- Mas você nada me respondeu.
- E o que você me perguntou de interessante até
agora?
- Nossa! Você está nervosa por algum motivo? Foi o
seu amigo Tadeu?
Me seguro, retorço o corpo e a alma. Engulo as
palavras. Transformo-as em grunhidos inaudíveis sufocados em uma respiração não
mais compassada.
Respiro fundo e vou em frente.
- Nem o Tadeu nem o Judas são meus amigos, ele é
uma só pessoa que colocado o “São” na frente do nome se transforma em um
protetor das causas impossíveis.
- Não estou entendendo.
- Vamos fazer o seguinte. Vou sair à francesa e
você faz de conta que não me viu.
- Você é francesa?
- Não! Vou correr de você mesmo. E confesso que
não deveria ter saído de casa mais uma vez.
- Mas deixa o seu telefone para a gente conversar.
- Conversar? Você sabe fazer isso? Adeus.