segunda-feira, 16 de julho de 2018

Conversas cruzadas



- Olá, tudo bem?
- Sim, tudo bem.
- Dia lindo hoje.
- Sim, a primavera se anuncia muito bonita.
- Você é daqui?
- Não sou de lá de fora.
- Você vem sempre aqui?
- Sim, sempre que tenho vontade.
- Eu nunca a vi por aqui e venho com frequência.
- Sim, minhas vontades são poucas.
- Quais vontades?
- As de vir aqui.
- E por quê?
- Porque não há variação de pessoas e muito menos de conversas.
- Não entendi.
- Presumo que não, estás acostumado a mesmas ladainhas.
- O que é uma ladainha?
- Meu São Judas Tadeu! Será que vou ter que desenhar?
- Quem é esse cara? Seu parente?
- Amigo, ladainha é o mesmo que lengalenga, entendeu?
- Não, não entendi.
Meus dedos tamborilam em um objeto imaginário, olhos, motivados pela impaciência, se perdem no horizonte para não saírem de órbita.
- O que você não entendeu?
- O seu “tendafenga”.
Se não entendeu a palavra lengalenga imagine se eu disser que é enfadonho. Recorro ao dicionário mental.
- Não gosto de ouvir sempre as mesmas coisas, de repetição. Entendeu?
- Mas você nada me respondeu.
- E o que você me perguntou de interessante até agora?
- Nossa! Você está nervosa por algum motivo? Foi o seu amigo Tadeu?
Me seguro, retorço o corpo e a alma. Engulo as palavras. Transformo-as em grunhidos inaudíveis sufocados em uma respiração não mais compassada.
Respiro fundo e vou em frente.
- Nem o Tadeu nem o Judas são meus amigos, ele é uma só pessoa que colocado o “São” na frente do nome se transforma em um protetor das causas impossíveis.
- Não estou entendendo.
- Vamos fazer o seguinte. Vou sair à francesa e você faz de conta que não me viu.
- Você é francesa?
- Não! Vou correr de você mesmo. E confesso que não deveria ter saído de casa mais uma vez.
- Mas deixa o seu telefone para a gente conversar.
- Conversar? Você sabe fazer isso? Adeus.

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