
Em uma tarde sacro outonal, decidi que num passado distante estive
Meigas imagens infantis remeteram-me ao Padre Amílcar e sem pestanejar disse ter estado na congregação dos servos de Maria.Uma mentira imediatamente interpelada pelo meu amigo o Homem da Montanha:
- Mas como você conseguiu? Com certeza é a primeira e ainda única mulher que passou por lá parte.
-Como assim?
- Por lá só passam homens, é uma congregação de padres e o Padre Amilcar pertencia essa congregação. Porque não optou pelas femininas.
- Bem, primeiro a memória me traiu e também porque as Clarissas andam descalças e eu adoro sapatos.
- E as Benedetinas?
- Não. Poderia ficar com aquele meio sorriso bronco da Irmã Ana Luiza. Não daria certo.
- E as outras ordens?.
- Olha homem montês, sou uma mulher da planície que adora a liberdade , nem o claustro nem batinas me cairiam bem. E indo mais além, também tem Maria no meu nome e isso poderia ficar esquisito.
- Esquisito como?
- A Congregação não abriga os servos de Maria?
- Sim. É isso mesmo.
- Então, veja bem. Eu, uma única mulher arrastando a batina dentro de um mundo eclesiástico, muitos servos eu poderia fazer.
- Então seu negócio é um mundo masculino e servil?
- Não mesmo, senhor Montês. Servos servem com excessivo prazer a um modelo original. Eu prefiro os anarquistas, aqueles que conscientemente sabem dizer não a vontade de alguém. Dizer sim a tudo não nos faz as melhores companhias. Concordas?
- Concordo sem submissão, senhora da planície.
- Só concordas? Em nada discordas ou discorres.
Fez-se um silêncio, talvez celestial, não porque passou um anjo, mas pela companhia quase sacerdotal.
- E... , digo eu impaciente aguardando resposta.
- Calma, será que para você tudo tem que ter réplica, mulher da planície?
- O mundo machista me fez assim. Sempre há uma resposta e eu preciso ficar na defensiva.
- Até que enfim! Grita uma terceira voz.
- Enfim o quê? Gritamos eu e o homem da montanha.
- Até que enfim alguém sabe fazer você silenciar pelo próprio silêncio.
Senza parole , io sono in silenzio.
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